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08 setembro 2007

CRÔNICA DE MILLÔR FERNANDES

Áurea     21:43  3 comments

PALAVRÕES TAMBÉM SÃO IMPORTANTES...


Os palavrões não nasceram por acaso.

São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo fazendo sua língua.

Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia.

Sem que isso signifique a "vulgarização" do idioma, mas apenas sua maior aproximação com a gente simples das ruas e dos escritórios, seus sentimentos, suas emoções, seu jeito, sua índole.

"Pra caralho", por exemplo.

Qual expressão traduz melhor a idéia de muita quantidade do que "Pra caralho"?

"Pra caralho" tende ao infinito, é quase uma expressão matemática.

A Via-Láctea tem estrelas pra caralho, o Sol é quente pra caralho, o universo é antigo pra caralho, eu gosto de cerveja pra caralho, entende?

No gênero do "Pra caralho", mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso "Nem fodendo!". O "Não, não e não!" e tampouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade "Não, absolutamente não!" não o substituem.

O "Nem fodendo" é irretorquível, e liquida o assunto. Te libera, com a consciência tranqüila, para outras atividades de maior interesse em sua vida.

Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro pra ir surfar no litoral? Não perca tempo nem paciência. Solte logo um definitivo "Marquinhos, presta atenção, filho querido, NEM FODENDO!". O impertinente se manca na hora e vai pro Shopping se encontrar com a turma numa boa e você fecha os olhos e volta a curtir o CD do Lupicínio.

Por sua vez, o "porra nenhuma!" atendeu tão plenamente as situações onde nosso ego exigia não só a definição de uma negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional.

Como comentar a bravata daquele chefe idiota senão com um "é PhD porra nenhuma!", ou "ele redigiu aquele relatório sozinho porra nenhuma!". O "porra nenhuma", como vocês podem ver, nos provê sensações de incrível bem estar interior. É como se estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha.

São dessa mesma gênese os clássicos "aspone", "chepone", "repone" e, mais recentemente, o "prepone" - presidente de porra nenhuma.

Há outros palavrões igualmente clássicos.

Pense na sonoridade de um "Puta-que-pariu!", ou seu correlato "Puta-que-o-pariu!", falados assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba...

Diante de uma notícia irritante qualquer um "puta-que-o-pariu!" dito assim te coloca outra vez em seu eixo. Seus neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizar e sacar a atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou o safar de maiores dores de cabeça.

E o que dizer de nosso famoso "vai tomar no cu!"?

E sua maravilhosa e reforçadora derivação "vai tomar no olho do seu cu!".

Você já imaginou o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando,passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta: "Chega! Vai tomar no olho do seu cu!". Pronto,você retomou as rédeas de sua vida, sua auto-estima. Desabotoa a camisa e sai a rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios.

E seria tremendamente injusto não registrar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: "Fodeu!".

E sua derivação mais avassaladora ainda: "Fodeu de vez!".

Você conhece definição mais exata, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação?

Expressão, inclusive, que uma vez proferida insere seu autor em todo um providencial contexto interior de alerta e auto-defesa.

Algo assim como quando você está dirigindo bêbado, sem documentos do carro e sem carteira de habilitação e ouve uma sirene de polícia atrás de você mandando você parar: O que você fala? "Fodeu de vez!".

Sem contar que o nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de"foda-se!" que ela fala.

Existe algo mais libertário do que o conceito do"foda-se!"?

O "foda-se!" aumenta minha auto-estima, me torna uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas. Me liberta.
"Não quer sair comigo? Então foda-se!".

"Vai querer decidir essa merda sozinho(a) mesmo? Então foda-se!".

O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição Federal.

Liberdade, igualdade, fraternidade e foda-se.

Áurea


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3 comentários :

  1. Amiga Simpática Áurea:
    Realmente é real. Tudo o que constata no dia-a-dia das pessoas passa-se como diz.
    Os palavrões conquistaram o seu lugar no Universo das pessoas.
    Se recordarmos os diálogos entre actores e actrizes do cinema português é carregado deles. Grandes escritores concebem a sua expressividade e comunicação em momentos, instantes cruciais, com diálogos repletos de palavrões. Em situações conflituosas e de aflição surgem.
    É bem verdade existirem em nós, amiga Áurea.
    Nas escolas o procedimento dos alunos é igual para desencanto e desgosto dos Educadores, mas surgem e provocam algum desconforto.
    Sim! Este post retracta muito bem o tipo de linguagem das pessoas no seu quotidiano emocional, com realismo e evidência.
    Nunca nenhum blog ousou apresentar-se tão ousado, mas real.
    Acontece. Surge. É visível.
    Abraço amigo com respeito e estima
    beijos de consideração
    pena

    ResponderExcluir
  2. Simpática Amiga:
    Fiquei a pensar no que diz no seu Post sobre os palavrões.
    E, lembrei-me.
    Sabe, qual o escritor afamado de Língua Portuguesa que utiliza muitos, mas muitos palavrões?
    Dinis Machado. Conhece?
    É um escritor muito talentoso e conhecido.
    Por acaso, presentemente, não tem aparecido nas livrarias, mas os seus livros são muito reconhecidos e elogiados.
    Vou ver se descortino algum.
    Beijos de consideração e amizade pena

    ResponderExcluir
  3. Áurea:

    Acredita que até hoje
    não consigo chamar palavrões?
    (Risos...)
    Fui a primeira filha, a primeira sobrinha, a primeira neta
    e tinha sempre "um batalhão"
    de gente tomando conta de mim...
    Se eu chamasse um palavrão
    o batalhão todo desabaria sobre mim
    (+ Risos...)
    Acho até que tem momentos
    que só poderiar ser expressados
    realmente com palavrões.
    Um das minhas tentativas,
    eu estava acompanhada
    de minhas filhas
    e vinha um louco para cima
    de meu carro na contra-mão.
    Fiquei com muita raiva.
    Tentei fazer um gesto, muito conhecido e acabei fazendo
    "o gesto errado".
    Até hoje minha filhas dizem
    que eu não paguei um MICO,
    eu paguei foi um KING kONG...
    O motorista maluco,
    e as minhas filhas tiveram
    uma crise de riso.
    e eu acabei rindo também...
    Mas se precisar tento novamente
    (Risos...)
    Adorei sua postagem.
    Um abraço.

    ResponderExcluir

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